Português – Francês

“Iniciei meus estudos em língua francesa em 2006, e em 2009 quando ainda era estudante do Celin, no nível intermediário 1, tive o primeiro contato com o programa Tandem. Como já havia morado com um francês, no período em que vivi em Lisboa, sentia muita vontade de encontrar outros francófonos para poder praticar mais a língua.

Pouco tempo depois de preencher minha ficha na secretaria do Celin, tive meu primeiro encontro agendado, com uma francesa chamada Lila Tam. Poucos minutos bastaram para percebermos que já tínhamos isso que os franceses chamam de “atomes crochus”, o que pode ser traduzido como átomos ligados. Através do meu contato com Lila, conheci muitas outras pessoas, e um grupo de amigos franco-brasileiros foi se formando, e nossos interesses e encontros foram cada vez mais se intensificando.

Difícil descrever uma caminhada ou um passeio de bicicleta, principalmente quando se trata de uma bicicleta Tandem, com dois assentos. Inúmeras foram as paisagens por onde passamos. Passeamos por becos escuros, paisagens tropicais, punks.(…)

Tivemos também nossos momentos de solidão, onde retomávamos nossas pedaladas a dois. Poucas foram as vezes que conversei em português com meus parceiros Tandens, pois como eu tinha uma intimidade maior com o francês nossas relações e conversas ocorriam de maneira mais fluída na língua francesa, e até hoje é a língua na qual nos relacionamos. Por um certo tempo pensei que eu não oferecia nada em troca aos meus parceiros, pois nunca tive paciência de lhes explicar regras, expressões ou nuances da língua portuguesa, mas um dia, em uma discussão com Bruna Ruano, ela atentou-me para a ideia que o Tandem poderia se expandir para outras trocas, e que isso eu já fazia há um certo tempo, e que a forma como eu trocava com Lila ou com outras pessoas era uma maneira menos didática.

A forma na qual eu encontro de ajudar meus amigos/parceiros Tandem é auxiliando-os na integração nesse país, tão quente, mas tão cheio de contradições e violências. Através das minhas possibilidades tento de alguma forma ajudá-los a encontrar moradia, apresento-lhes alguns bares, amigos, pessoas, lugares, músicas e livros. Compartilho minhas paixões, tão ligadas a língua portuguesa, ao Brasil.

Posso apenas falar das minhas experiências aqui, e uma das coisas que acredito que me fizeram aprofundar-me no estudo do francês foram esses encontros. Há um ano comecei a lecionar francês um uma escola em Curitiba e além dos inúmeros bons professores que tive, principalmente no Celin, sou grato demais a todos os encontros que tive e que ainda tenho.A todas essas trocas que me fizeram me aproximar de maneira direta e não romantizada ou idealizada com o francês.

Voltei há dois dias da França, e lá encontrei amigos que vieram graças ao Tandem e também a redes que fui criando com outras pessoas. Julien, Lila, Anais, Cecile. Pessoas que atravessaram minha vida e que de alguma maneira acho que atravesso as delas. Pessoas que me ensinam e me mostram o que há de estranho/estrangeiro em mim.

Falar uma língua estrangeira ha qualquer coisa em comum com o que costumamos chamar de experiência amorosa, ou amor. Em ambas experiências somos sempre estrangeiros, estranhos.

Por mais fluidez, tempo ou intimidade com uma língua (pessoa) haverá sempre lacunas, algo de frustração, pois prazer e desconforto se misturam ao que não é “maternal”. Amarfalar e uma competência que se encarna por tentativas e erros, por ironias não compreendidas, por esforços e por escuta. (…)

A condição estrangeira, estranha, nos coloca sempre em estados de adaptação, de potencia e fragilidade. Falar uma outra língua é mover seu corpo, adaptar toda sua musculatura fonética no objetivo de se comunicar, de se fazer entender. Tentar se aproximar de um outro, numa outra língua é uma experiência poética de alteridade, e por isso é sempre sensível e corajosa aquela pessoa que se esforça por sair de si para tocar o outro. E sempre sensível e corajoso também aquele que ouve o estranho, e por mais ruídos fonéticos, gramaticais que possam surgir no ato de falar, mantém seu respeito e atenção aquele que se esforça por mudar todo seu corpo na tentativa de contato. Há encontros que promovem essas sensibilidades e coragens, tem encontros que não… (…)


Toda despedida é um corte liquido, um sorriso inocente. As pequenas separações, os encontros desajustados, os desejos que se concretizam ou que escoem pelo ralo. Viajar ‘e mover se, para algum lugar que talvez não se nomeie. Paris, Japão, Bolívia ou Brasil. O que me move nunca foram as paisagens, mas as pessoas. E são os encontros, que são repletos de paisagens que nos fincam marcas; “Viajar não é chique, viajar também dói.”